Sunday, June 21, 2009

Transferência de endereço do blog

As atividades desse blog foram transferidas para o seguinte endereço:


Cordiais saudações a todos!

Labels:

Saturday, May 02, 2009

A gripe dos porcos e a mentira dos homens

O governo do México e a agroindústria procuram desmentir o óbvio: a gripe que assusta o mundo se iniciou em La Glória, distrito de Perote, a 10 quilômetros da criação de porcos das Granjas Carroll, subsidiária de poderosa multinacional do ramo, a Smithfield Foods. La Glória é uma das mais pobres povoações do país. O primeiro a contrair a enfermidade (o paciente zero, de acordo com a linguagem médica) foi o menino Edgar Hernández, de 4 anos, que conseguiu sobreviver depois de medicado. Provavelmente seu organismo tenha servido de plataforma para a combinação genética que tornaria o vírus mais poderoso. Uma gripe estranha já havia sido constatada em La Glória, em dezembro do ano passado e, em março, passou a disseminar-se rapidamente.

Os moradores de La Glória – alguns deles trabalhadores da Carroll – não têm dúvida: a fonte da enfermidade é o criatório de porcos, que produz quase 1 milhão de animais por ano. Segundo as informações, as fezes e a urina dos animais são depositadas em tanques de oxidação, a céu aberto, sobre cuja superfície densas nuvens de moscas se reproduzem. A indústria tornou infernal a vida dos moradores de La Glória, que, situados em nível inferior na encosta da serra, recebem as águas poluídas nos riachos e lençóis freáticos. A contaminação do subsolo pelos tanques já foi denunciada às autoridades, por uma agente municipal de saúde, Bertha Crisóstomo, ainda em fevereiro, quando começaram a surgir casos de gripe e diarreia na comunidade, mas de nada adiantou. Segundo o deputado Atanásio Duran, as Granjas Carroll haviam sido expulsas da Virgínia e da Carolina do Norte por danos ambientais. Dentro das normas do Nafta, puderam transferir-se, em 1994, para Perote, com o apoio do governo mexicano. Pelo tratado, a empresa norte-americana não está sujeita ao controle das autoridades do país. É o drama dos países dominados pelo neoliberalismo: sempre aceitam a podridão que mata.

O episódio conduz a algumas reflexões sobre o sistema agroindustrial moderno. Como a finalidade das empresas é o lucro, todas as suas operações, incluídas as de natureza política, se subordinam a essa razão. A concentração da indústria de alimentos, com a criação e o abate de animais em grande escala, mesmo quando acompanhada de todos os cuidados, é ameaça permanente aos trabalhadores e aos vizinhos. A criação em pequena escala – no nível da exploração familiar – tem, entre outras vantagens, a de limitar os possíveis casos de enfermidade, com a eliminação imediata do foco.

Os animais são alimentados com rações que levam 17% de farinha de peixe, conforme a Organic Consumers Association, dos Estados Unidos, embora os porcos não comam peixe na natureza. De acordo com outras fontes, os animais são vacinados, tratados preventivamente com antibióticos e antivirais, submetidos a hormônios e mutações genéticas, o que também explica sua resistência a alguns agentes infecciosos. Assim sendo, tornam-se hospedeiros que podem transmitir os vírus aos seres humanos, como ocorreu no México, segundo supõem as autoridades sanitárias.

As Granjas Carroll – como ocorre em outras latitudes e com empresas de todos os tipos – mantêm uma fundação social na região, em que aplicam parcela ínfima de seus lucros. É o imposto da hipocrisia. Assim, esses capitalistas engambelam a opinião pública e neutralizam a oposição da comunidade. A ação social deve ser do Estado, custeada com os recursos tributários justos. O que tem ocorrido é o contrário disso: os estados subsidiam grandes empresas, e estas atribuem migalhas à mal chamada "ação social". Quando acusadas de violar as leis, as empresas se justificam – como ocorre, no Brasil, com a Daslu – argumentando que custeiam os estudos de uma dezena de crianças, distribuem uma centena de cestas básicas e mantêm uma quadra de vôlei nas vizinhanças.

O governo mexicano pressionou, e a Organização Mundial de Saúde concordou em mudar o nome da gripe suína para Gripe-A. Ao retirar o adjetivo que identificava sua etiologia, ocultou a informação a que os povos têm direito. A doença foi diagnosticada em um menino de La Glória, ao lado das águas infectadas pelas Granjas Carroll, empresa norte-americana criadora de porcos, e no exame se encontrou a cepa da gripe suína. O resto, pelo que se sabe até agora, é o conluio entre o governo conservador do México e as Granjas Carroll – com a cumplicidade da OMS.

Fonte: Jornal do Brasil, 01/05/2009.

Friday, June 13, 2008

AMUN 2008


Acabo de receber um e-mail da Equipe de organização do AMUN, importante modelo de simulação das Nações Unidas, solicitando a divulgação do evento.
Para quem se interessar, abaixo publico o texto do e-mail.
Abraços a todos!

Prezado Docente,
O Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília em parceria com a Organização das Nações Unidas promoverá entre os dias 21 e 25 de julho a décima primeira edição do Americas Model United Nations - AMUN, conferência que tem por objetivo reunir na capital do país uiversitários interessados em debater as principais questões da agenda internacional.
Desta forma, segue abaixo um comunicado que contém maiores informações sobre o evento para ser divulgado, caso possível, entre a comunidade de estudantes.
Contamos com sua colaboração para divulgação deste evento de grande valia para a formação da consciência de cidadania em nosso meio acadêmico.
Atenciosamente,
Equipe AMUN 2008
___________________________
The staff of Americas Model United Nations – AMUN gladly invites all university students with an interest in international relations, diplomacy, law, political science and economics to participate in this year's conference.

What is AMUN?

Back in 1998, AMUN was the first Model UN conference to be established in Brazil, hosted by the Universidade de Brasília. About four hundred undergraduate students and alumni from universities from all over the world gather in Brasília each year to attend the conference, in which each of them plays the role of a diplomat, representing his/her country's position on the committees' discussions. AMUN is supported by the Brazilian Government and by the main United Nations offices in Brazil – such as UNDP, UNESCO and the United Nations Association.

The venue

We are taking AMUN back to the premises of the Instituto Rio Branco – IRBr, Brazil's prestigious school of diplomacy operated by the Ministry of Foreign Affairs. This will be a unique opportunity to know the place where some of you may be bound to study in the future.

Why participate?

This year, we reach two important milestones: besides celebrating ten years of the project, we have had an unprecedented number of registered foreign delegations so far – students from Argentina, Nigeria, France, United Kingdom and Guyana, from universities as prestigious as Cambridge and Sciences Po have already confirmed their presence.

Cultural activities and entertainment

Our administrative staff is committed to making the conference above all fun and culturally enriching. We have already partnered with Portugal's Embassy to Brazil, which will host our cultural party. Be sure to check out our schedule as we get closer to the conference date, since a lot more is currently in the works!

Cooperating for coexisting

We invite you to take part in what is shaping up to be one of the best editions of the event. This year's motto, "Cooperating for coexisting", has so far been a great source of inspiration for our staff. We hope this feeling will also inspire and motivate all delegates in the upcoming discussions.

For more information, check our website at www.amun.org.br/2008. Registrations are still open for a limited time period.


--
Camila Ramos Almeida
Secretária Administrativa
11º AMUN - Americas Model United Nations
camilaramos7@gmail.com
+55 61 8143-4577

Labels:

Thursday, June 12, 2008

Fotos das turmas 2008-1

As fotos das turmas estão publicadas no seguinte endereço:

http://picasaweb.google.com/ricksonrios/FotosDasTurmas

Abraços a todos!

Labels:

Wednesday, June 04, 2008

Para realizar um trabalho acadêmico

Todo trabalho acadêmico representa uma construção de idéias, algumas delas originais [portanto pensadas pelo autor do trabalho], outras criadas por outros autores. Quando proponho uma avaliação por trabalho escrito, considero o seguinte:

  1. Vivemos em um mundo em que dados são acessíveis facilmente. São milhões e milhões deles que passam por nós sem ao menos nos apercebermos de sua existência e importância como informação. Repare que estou distinguindo DADOS de INFORMAÇÃO. Aqueles existem antes de sua aplicação. Esta se constitui pelos dados aplicados e utilizados.
  2. Uma das mais importantes habilidades que devemos desenvolver, em face dessa gigantesca profusão de dados, é a capacidade de lidar com eles sem nos perdermos. Para isso, faz-se necessário que desenvolvamos uma importante habilidade: a de SÍNTESE. Isso parece fácil... "basta fazer um resumo", diriam alguns. Sustento, porém, que fazer um resumo nem sempre é tão simples. É preciso captar a idéia central do autor. Entretanto, algumas vezes há mais de uma idéia importante em um texto. Além disso, você pode se deparar com informações secundárias que podem ser de grande importância para você.
  3. Não existe nenhum inconveniente em se valer da idéia de terceiros. O problema ocorre quando esse texto é usado, muitas vezes ipsis literis, sem qualquer referência ao real autor. Tal prática constitui PLÁGIO e a penalidade na disciplina (penso que este seja o critério de qualquer professor...) é a atribuição de GRAU ZERO ao trabalho!
  4. Como o estudante tem que lidar, em geral, com mais de um autor, é preciso também desenvolver outra importante habilidade: a DIALÓGICA. Sim, é necessário costurar as idéias centrais (ou até secundárias, quando realmente importarem para o seu trabalho) de vários autores, de modo a que eles dialoguem entre si [segundo um roteiro que você determine]. Veja, a construção do seu texto representa um exercício dessa capacidade dialógica.
  5. Não estou dizendo com isso que o trabalho acadêmico resulte de vários resumos conectados (abandonemos esses pensamentos binários!...). Há de haver uma contribuição sua. Não se poderá desprezar, todavia, que a própria maneira de expor e costurar a idéia de vários autores é, por si mesma, uma marca pessoal de grande importância e externa sua maneira de ver e de entender esses autores.
  6. A grande contribuição – parece-me – que um estudante pode fazer a um trabalho acadêmico, contudo, não são as respostas que ele eventualmente apresente após ter lido os vários textos, identificado a idéia central deles e, por fim, criando um texto para amalgamar aquelas idéias. A grande contribuição está nas dúvidas!!! Isso mesmo, nas dúvidas!!! As questões são mais importantes do que as respostas!!! Devemos fazer perguntas àqueles autores, cujos textos lemos. E o mais interessante é que às vezes eles não vão responder (metaforicamente, é claro). E aí? Você vai tirar uma nota baixa por causa disso? Claro que não! A não ser que sua pesquisa não responda às questões por ter sido demasiado limitada...
  7. As respostas são estáticas [você sabe as respostas e fica lá... sabendo...]. São as dúvidas que criam o suspense. São elas que geram a dinâmica que nos faz avançar. As respostas representam o presente e resultam de perguntas que estão em nosso passado. Mas são as novas dúvidas que representam o futuro. São elas que criam os referenciais que determinam nosso caminho.
  8. O problema é que nós não somos ensinados a duvidar. Somos ensinados a saber o que é certo e o que é errado. Só que às vezes o certo é errado e o errado é certo. E tudo depende do referencial. Nós temos uma noção intuitiva dessa relatividade. Ouvimos histórias sobre isso. Porém, na hora de aplicarmos temos medo. Aí procuramos o porto seguro: o certo é certo e o errado é errado... Nós estamos tão habituados ao certo e ao errado, que nos esquecemos de questioná-los [Será que realmente isso é certo...será que realmente é errado?]. Além disso esse [mau] costume nos faz procurar o certo e o errado em tudo na vida. "Isso que o professor falou em sala de aula está errado porque eu li o texto de um autor que diz o contrário... aquilo está certo porque eu li no jornal..."
  9. Outro problema com nossas dúvidas é que gostamos de dicotomizar. "Se não é certo, é errado"... Será? Nem tudo se apresenta em dois pólos (ou três, caso queiramos assumir a existência de uma proposta mista). É preciso entender que, por vezes, as categorias são plurais e, em determinadas situações, nem se pode categorizar...
  10. Se você formula questões que não são respondidas pelos autores – e há sempre questões assim... –, não porque você pouco pesquisou, mas porque nenhum deles abordou a questão, então você já pode propor algumas hipóteses.
  11. As hipóteses são suas propostas de resposta àquelas questões. Se nenhum autor respondeu às suas dúvidas, então você estará autorizado a formular hipóteses. Se elas vão ser comprovadas ou não, isso não importa. "Como assim não importa se minhas respostas estão certas ou não"? Em um trabalho acadêmico o mais importante é o processo. Se ao final dele, utilizando-se adequadamente da metodologia, você chegou à conclusão de que sua hipótese não está correta, pois muito bem... Parabéns! Você, com isso, está mostrando à comunidade que você tentou aquele caminho, mas não é por ali. E tudo bem! A vida segue. Diria Thomas Edson: "essa é mais uma maneira de não inventar a lâmpada" (velha essa, não?).
  12. Essas regras valem para todo e qualquer trabalho de natureza acadêmica que venham a desenvolver. Não é só monografia. Os trabalhos de disciplinas também. Ter dúvidas e formular problemas é algo que deve ser natural em nós [vamos parar de achar que sabemos de tudo...]. Essa é que devia ser a regra. Propor uma pergunta e uma hipótese (uma proposta de resposta) não é um bicho de 7 cabeças.

Saudações cordiais a todos!

Sunday, May 25, 2008

Migração é crime?

Ventos sombrios sopram pela Europa, um continente forjado pelo fogo das guerras e pelas lágrimas do adeus aos emigrantes e refugiados que de lá partiram, buscando sua sorte em outras paragens. No Brasil, inclusive.
O desenvolvimento europeu, contudo, trouxe consigo o vírus da discriminação, por que alguns se deixaram contaminar. Agora, o que se discute é a criminalização da imigração. Ser imigrante indocumentado é crime, punido com cadeia! Se analisarmos com mais cuidado veremos que, se for assim, o indivíduo será punido por não ser nacional daquele país. Uma brutal discriminação pela origem, rechaçada por todas as constituições de países liberais democráticos. Como se pode compatibilizar isso? E todos os princípios que nos orientaram a educação? De que valem? E todo o sangue europeu que correu pela aplicação de leis raciais, cujo fundamento não é diferente das que se apresentam criminalizando a imigração de sem papéis?
Abaixo transcrevo um artigo publicado por Lluís Bassets, articulista do espanhol El País.

23 mayo, 2008 - Lluís Bassets

Responsabilidad de proteger

Detenciones indefinidas sin control judicial. Delito de inmigración. Agravante de inmigración en caso de comisión de un delito. Europa se ha construido, en los últimos cincuenta años, a partir de una doble mirada: hacia el futuro deseado de su unidad política y económica y hacia un pasado sombrío y cruel que no queremos repetir. Los campos de concentración, las deportaciones, los refugiados, los ciudadanos apátridas rechazados de un lado para otro, pertenecían a una época oscura, en la que la fuerza se impuso sobre el derecho, y la dictadura sobre las libertades. Para que no se repitiera todo aquello, todo esto, para que las naciones europeas no regresaran al camino de la exclusión del otro y de la violencia se inventó la Unión Europea y el Consejo de Europa.

A veces no nos damos cuenta de que algo similar ha sucedido con la democracia española. La esperanza proyectada hacia el futuro y el miedo de no regresar al pasado han sido los motores que han llevado a la estabilidad y a la democracia, a la mejor etapa de paz y prosperidad de nuestra historia. Pero de pronto, empiezan a llegar unos dirigentes y unos partidos que no tienen memoria ni quieren tenerla, que ni se proyectan hacia el futuro ni les importa un bledo el pasado. Viven una especie de eterno presente, mediático y evanescente, una espuma hecha de frivolidad y codicia que les impide ver más allá de sus narices. Kohl y Mitterrand se lo decían entre ellos mismos muchas veces. ¿Qué será de Europa el día en que nadie tenga ya el recuerdo vivo de lo que fueron aquellos tiempos de guerra civil europea?

Estos tiempos ya han llegado. Ahí están esos demagogos italianos, dispuestos a atizar las peores pulsiones para obtener el poder y sacarle todo el provecho posible. Los gitanos europeos se hallan ya estigmatizados, incluidos los gitanos italianos, a los que se les ha convertido en asimilables a extranjeros y a inmigrantes. Los europeos pertenecientes a la Unión Europea menos favorecidos, como los rumanos, también han quedado incluidos en este grupo de malditos. Todos los inmigrantes extraeuropeos detrás suyo. Hace unos años alguien en Francia habló de la lepenización de los espíritus para explicar la súbita fiebre identitaria y antiinmigración que se expandió por todo el arco parlamentario, izquierda incluida. Ahora habrá que hablar de lepenización de la política y del derecho.

Algo está funcionando mal, pero que muy mal, para que se haya llegado a este punto, en el que hay numerosas personas que se encuentran en situación de gran vulnerabilidad y de peligro para sus derechos más elementales. La UE se ha hartado de hablar de la responsabilidad de proteger referida a los genocidios, catástrofes, hambrunas y situaciones de miseria en los países pobres. Ahora tenemos dentro de Europa mismo una población fragilizada y amenazada que deeb suscitar de todos los socios y de los ciudadanos esa responsabilidad para protegerlos tantas veces invocada. Y tenemos también dentro de Europa un país, Italia, cuyo Gobierno concibe una legislación que no pueden admitir las Constituciones democráticas de sus Estados (en ningún caso la española, por supuesto), tampoco la carta de Derechos Fundamentales, ni las Convenciones Europeas de Derechos Humanos. Lo que propone Berlusconi no le permitiría ni siquiera pedir el ingreso en la UE si fuera un país candidato, según los famosos criterios de adhesión de Copenhague.

Y todo esto inspira a los 27 socios para armar una Directiva de Retorno que consagrará unos plazos de detención inadmisibles y sin el adecuado control judicial, y que deja en situación de gran fragilidad a los inmigrantes insuficientemente documentados que intenten ingresar en Europa. Es de esperar ahora que los parlamentarios europeos tengan la decencia de actuar bajo la disciplina de la responsabilidad de proteger y no de las directrices emanadas de sus grupos políticos, y que respondan a esta Directiva de la Vergüenza con un rechazo de las actuales políticas de detención prolongada y sin control judicial practicadas por gran número de estados europeos.

Fonte: Del Alfiler al Elefante

Labels:

Sunday, May 18, 2008

WHOSE RAIN FOREST IS THIS, ANYWAY?

Hoje foi publicado no jornal The New York Times um artigo, cujo título poderia ser traduzido como "De quem é a floresta tropical, afinal?", referindo-se à polêmica sobre a propriedade da floresta amazônica.

Como se sabe, a região guarda a maior reserva de biodiversidade do planeta, além de conter também uma das maiores bacias aqüíferas do mundo.

A preocupação quanto à manutenção da soberania do país na região não é nova. Esteve presente nas políticas dos governos militares e hoje, em face da crescente preocupação mundial com o meio ambiente, faz-se igualmente presente nas atenções do atual governo. A ameaça da internacionalização da região de alguma forma povoa o imaginário de nossa sociedade. Já recebi vários e-mails em referência ao assunto: desde aqueles que não passam de embustes, que buscam provocar o pânico geral [aliás, como vários que circulam na web], até aqueles outros com análises bastante acuradas. Posso afirmar, como acadêmico, que participei, como examinador, de alguns trabalhos científicos sobre o assunto, no campo das relações internacionais, uma boa parte deles abordando o tema da biopirataria. A prática, aliás, é adotada desde que o inglês Henry Alexander Wickham - por seus co-nacionais chamado de Sir - roubou sementes de árvores seringueiras, transplantando-as para a Malásia, na época da expansão da produção de borracha no Brasil, na segunda metade do século XIX.

Sempre que me deparo com o tema, impressiona-me a sensação da brutalidade de voz mansa com que agem os Estados mais desenvolvidos, quando têm, diante de si, algo de valioso que pertence a outros. A idéia contida na noção de direitos difusos é, sem dúvida alguma, manipulada para justificar discursos como o da internacionalização da região amazônica. E desprezada diante de um tratado que realmente traria algo de positivo para a humanidade, como o Protocolo de Kyoto. Lembro aos meus leitores que os EUA não o ratificaram por temerem um impacto negativo sobre sua produção industrial. Outra utilidade conveniente dos direitos difusos aplica-se às questões relacionadas ao patrimônio da civilização humana, que, segundo alguns, devem ser reunidos e preservados nos grandes museus do planeta - como os Museus do Louvre e Britânico - enchendo salas e salas de artefatos e obras singulares. A idéia em si de patrimônio da humanidade é positiva, não discuto. Todavia o fluxo de turistas para os países onde se encontram movimenta a economia daqueles e não dos que foram expropriados de seus bens históricos. Alguém poderia discordar: "se lá estivessem, não mais existiriam...". Será? Isso significaria que só os países desenvolvidos têm condições de preservar bens históricos e arqueológicos. Não acredito. Porém, ainda que assim fosse, custa-me crer que algum percentual dos ganhos bilionários se destina aos países de onde provieram aquelas peças.

A questão da Amazônia surge em meio, parece-me, a um enfrentamento de fundo sobre o conteúdo do que se convenciona chamar de direitos humanos de terceira geração. São os direitos relacionados à idéia de fraternidade. Conforme se pode perceber do citado artigo, a noção de fraternidade, presente no tema da internacionalização da Amazônia, está mais para o irmão mais velho que ameaça o mais novo com uma surra, caso não lhe entregue o doce...

Publiquei o referido artigo no RelBlog. Caso o leitor, preocupado, queira ler, clique aqui.

Labels: , , ,