Thursday, May 03, 2007

Reflexões sobre a vinda do Papa ao Brasil

Sueli Rios
"Não te deves pavonear perante o mundo, quando venceres, nem abater-te e lamentar-te quando fores vencido; alegra-te com o que é digno de alegria; não desfaleça em excesso, na desgraça: conhece o ritmo que mantém os homens nos seus limites." (Arquíloco [de Paros] Frag. 67).
Ultimamente, lendo uma peça de Ésquilo e acompanhando notícias que cercam a vinda do Papa ao Brasil, venho fazendo isso.
Uma das coisas mais interessantes que achei da leitura de Oréstia foi flagrar passagens em que o comportamento comedido é explicitamente realçado.
A preocupação com a justa-medida das coisas já pode ser vista quando Agamemnon, o Rei vencedor da guerra de Tróia, entra de pé sobre o seu carro e o Corifeu busca a medida certa para homenageá-lo.
Corifeu - Ah!...Rei, filho de Atreu, destruidor de Tróia, como hei de te saudar? Como hei de te venerar sem ir além ou sem ficar aquém da justa homenagem? Muitos mortais, preocupados pela aparência ultrapassam a justa medida.
Também o Coro manifesta-se favoravelmente a respeito dos limites:
Coro - A moderação é o bem supremo.
Climemnestra ordena as escravas...
Clitemnestra - ...Que nasça logo um caminho de púrpura que o leve até a habitação inesperada aonde a justiça o conduz.
E abre a oportunidade para próprio Rei dar exemplo de prudência.
Agamemnon - ...não me trates assim molemente, como a uma mulher, nem me acolhas como a um bárbaro, joelhos dobrados e boca gritando, nem junques o caminho com tecidos, para não despertar a inveja. Só deuses devem ser assim honrados. Só deve ser julgado feliz aquele que terminou sua vida em pacífico bem estar. Repito: o que queres não posso fazer sem apreensões.
A televisão irradia imagens de mulheres e homens que trabalham intensamente bordando lençóis de algodão do Egito (o nosso serve para outras coisas, como as toalhas e os chinelos, por exemplo); fabricando móveis; reformando imóveis; fazendo cálices e ostensórios; cultivando plantas e flores para serem enviadas de Pernambuco e por aí vai a frenética preparação para receber aqui o Pontífice. Perguntado a uma das bordadeiras, que muito orgulhosa mostrava o trabalho dela, como se sentia, respondeu emocionada que era como se estivesse trabalhando para o próprio Deus.
Assisto as preparações... Reflito... E me ponho a perguntar: Tudo isso se faz mesmo necessário? Quantos dias o Papa vai ficar no Brasil? É razoável? É comedido? É Cristão?
Releio passagens da Oréstia, com Agamemnon dizendo...
Agamemnon - Eu, mortal não posso sem receio caminhar por estes magníficos bordados. Honrai-me como homem e não como deus. Mesmo sem tapetes e sem tapeçarias se faz ouvir o meu renome e a prudência é o maior dom dos deuses.
Como deixar de comparar?
Agamemnon - É uma grande vergonha, com efeito, arruinar uma casa esbanjando para os pés um tal luxo de tecidos caríssimos.
A Justiça definida na República de Platão é a relação harmônica das três virtudes fundamentais que devem regular a alma: a temperança, a coragem e a sabedoria. São virtudes para todos os tempos e tanto mais necessárias, contudo, quando praticadas pelos que possam servir de modelo exemplo.
É o Papa que está pedindo o aparato? Não. Mas penso que a Igreja de Jesus Cristo não devia concordar com o excesso.
"Olhai os lírios dos campos, como eles crescem: não trabalham nem fiam; E eu vos digo que nem Salomão se vestiu como qualquer deles."

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