Wednesday, August 02, 2006

Desventuras amorosas - Se os deuses as têm, por que não nós, reles mortais?

Desculpem-me a recaída romântica neoclássica (essa combinação é possivel?), mas enquanto fazia uma pequena pesquisa sobre mitologia grega e romana, encontrei essa muito curiosa história de Apolo e Dafne, com uma significativa participação de Eros (Cupido).
Apolo e Dafne

Apolo amava muito o belo da vida. Uma vez, em Delfos, quando experimentava com as setas de ouro sua habilidade no tiro ao alvo, o jovem Eros, filho alado de Afrodite, apresentou-se diante dele. Parecia estar à procura de uma oportunidade de enlear o deus em alguma aventura amorosa.
Naquele momento a flecha de Apolo havia atingido o talo de uma maçã pendurada no galho de uma macieira distante. Eros apanhou então o seu arco e o ergueu, alvejando a mesma maçã antes que esta chegasse ao solo.
- Deixe-me atirar minhas setas em paz, menino! – Disse Apolo aborrecido. – E te faria muito bem não ousar medir-se comigo!
- Sei que suas flechas não erram o alvo – disse o risonho Eros -, mas as minhas também são infalíveis.
[Agora observem essa passagem]
Mais aborrecido ainda do que Apolo, Eros abriu as asas e voou para o alto do Parnaso. Em seguida puxou da aljava duas flechas: uma era a flecha que despertava o amor e a outra era aquela que o recusa. Com a primeira feriu Apolo direto no coração e com a segunda a ninfa Dafne, filha do rio Peneio, que àquela hora passava, desapercebida, perto do deus de cabelos dourados.
Apolo, atingido pela seta do amor, ficou maravilhado com a beleza da ninfa e seu porte delicado, e avançou para o lugar onde ela estava, com o intuito de lhe falar. Dafne, porém, atingida pela flecha que recusa o amor, assim que viu Apolo, afastou-se. Ele, então, se aproximou ainda mais, mas a ninfa, com passos ligeiros, foi para mais longe. Apolo com saltos rápidos tentou chegar perto da bela Dafne. E foi isso. Ela saiu correndo. Como louco o deus a perseguia, gritando-lhe para que parasse, mas ela corria cada vez mais.
[Vejam se isso não se conecta bem com algumas passagens de autores românticos do século XIX, cujas criações, aliás, influenciam até hoje a produção de novelas, filmes etc...e, conseqüentemente, nossa visão de mundo...a mulher inalcançável, o desprezo da amada...ou será que é o contrário? O mito projeta a vida como ela é, inclusive as desventuras por que todos passamos? Bom, continuando a história...que é linda!)
- Pare, eu lhe peço! – implorava o filho de Leto. – Não quero lhe fazer mal!
Mas a ninfa de pés ligeiros não dava sinais de que iria parar e escapava dele continuamente. Apolo, por sua vez, também não desanimava e sempre a perseguia e a pedia que parasse: - Não tenha medo, bela ninfa. Por que foge como se algum animal selvagem a perseguisse? Não sou mal, sou Apolo, filho de Zeus. Ordeno a você que pare de correr assustada.
Por essa passagem percebe-se o ‘fino trato’ que Apolo possuía ao lidar com a natureza feminina, ao ‘ordenar’ que ela deixasse de se assustar com ele.
Mesmo com toda a ‘sensibilidade’ de Apolo, Dafne continuava a correr. Ora Apolo se aproximava dela parecendo que iria alcança-la, ora ela se distanciava dele com um súbito solavanco. Em seguida ele a alcançava de novo, pronto para tocá-la, mas mais uma vez a ninfa escapava, como uma borboleta assustada.
O deus de cabelos dourados, no entanto, não parecia estar disposto a parar sua desenfreada perseguição. A flecha de Eros havia despertado nele uma paixão feroz.
- Por mais que ela resista, uma hora se cansará e eu a alcançarei. – E, de fato, Dafne começou a ficar cansada. O deus da luz aproximava-se cada vez mais... e eis que estendia os braços e chegava perto de tocá-la, de apanhá-la...
- Oh, deuses! E você, meu pai, por que me deixas cair nas mãos de Apolo? Não o quero para meu amante! Melhor eu me transformar numa pedra ou numa árvore, do que ser tocada por alguém que não amo! Ainda que seja ele um deus!
[Observem a carga dramática]
A Metamorfose de Dafne
E, realmente, naquele instante, Dafne enrijeceu-se. De seus braços e cabelos despontaram galhos e folhas, enquanto seu corpo tornou-se o tronco de uma árvore. Assim, a jovem ninfa se transformou no perfumado loureiro, que todos conhecemos. Apolo, em alta velocidade, em vez de agarrar a linda moça, agarrou a copa de uma árvore.
Uma grande tristeza se apossou então do deus da luz. Ficou muito aflito por ter causado o desaparecimento da ninfa que ele amara tão repentina e fervorosamente. Com olhos tristes, acariciou as folhas do cheiroso loureiro e, em seguida, cortou um ramo e o colocou na cabeça. Nunca Apolo esqueceria a bela a indomável ninfa. E é por isso que muito freqüentemente ele se apresenta com folhas de louro à cabeça.

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